Talentos do Semiárido

Sistemas Irrigados Agroecológicos (Rio Grande do Norte)

Nas comunidades Sombras Grandes e Milagres, sistemas irrigados agroecológicos impulsionam a produção e o acesso ao mercado

Sistemas Irrigados Agroecológicos (Rio Grande do Norte)

As comunidades rurais Sombras Grandes e Milagres estão localizadas no município de Caraúbas, na Chapada do Apodi, em pleno Semiárido do Rio Grande do Norte. A vocação dessa região é a produção de alimentos, com destaque para o mel, através da agricultura familiar, embora empresas do agronegócio estejam aportados no território com seus agrotóxicos e seu rastro de devastação dos recursos naturais.

Em 2003, os agricultores familiares de Sombras Grandes e Milagres iniciaram um processo de recuperação do solo a partir do manejo da Caatinga. Esse foi o começo de um trabalho coletivo na comunidade para a criação da Associação dos Agricultores Familiares de Sombras Grandes e Milagres dois anos depois. A associação abriu a porta das comunidades para a chegada de vários projetos produtivos sustentáveis.

Sementeiro do Sistemas Irrigados Agroecológicos (Rio Grande do Norte)

Um destes projetos foi o de irrigação, resultado de uma parceria da associação com o Projeto Dom Hélder Câmara (PDHC/MDA/FIDA) e Petrobras. A parceria foi firmada em 2009 e resultou na construção de um sistema de irrigação de hortaliças e frutas integrada com a criação de animais e com a produção de mel de abelha.

No Semiárido, a irrigação deve ser bem projetada e manejada para fazer uso racional da água e evitar a redução da qualidade do solo e processos de degradação. Por estes motivos, o sistema de irrigação instalado em Sombras Grandes e Milagres priorizou a irrigação localizada por microaspersão e por gotejamento. Outro ponto que faz diferença nessa iniciativa é que a instalação dos sistemas de irrigação foi todo feito com a participação da comunidade de tal forma que eles aprenderam a técnica e podem consertar se houver problema e construir novos sistemas de acordo com as necessidades futuras.

De lá pra cá, observa-se que a experiência dos sistemas irrigados agroecológicos potencializou a organização da produção. “Apesar dos quatro anos de seca, o assentamento não sofre como antes e consegue se manter bem durante todo o ano com 16 tipos diferentes de alimento, com a transformação das frutas em polpas que antes não eram aproveitadas. Atualmente, os/as agricultores/as produzem polpa de caju, cajarana, acerola, manga, maracujá, entre outros”, conta o agricultor Irapuã Gurgel.

Nas comunidades, as famílias cultivam hortaliças e frutas de forma agroecológica. A água para manter a produção vem de poços planejados para atender as necessidades do sistema. A irrigação possibilitou o cultivo das hortaliças, que até então não faziam parte do hábito alimentar das famílias. Para cultivar algo novo, a experimentação de diversas formas de manejo foi essencial para as famílias observarem e conhecerem os ciclos das hortaliças. Essa experimentação foi gerando aprendizado e, hoje, as famílias dominam o plantio de diversas hortaliças, como a cenoura, beterraba, alface, coentro, cebolinha, pimenta, bem como práticas agroecológicas que mantêm a fertilidade do solo.

Horta do Sistemas Irrigados Agroecológicos (Rio Grande do Norte)

Além das hortaliças e frutas, as famílias também cultivam algodão, gergelim, amendoim e sorgo e criam galinhas, abelhas e caprinos. Para manter os animais, há um banco de proteínas nas comunidades.

A diversificação e gestão da produção possibilitaram colheitas maiores do que as necessidades do consumo familiar. Com sobra na produção, as famílias de Sombras Grandes e Milagres se juntaram com mais 12 comunidades para dar sustentação à Feira Agroecológica de Caraúbas (RN). Com a feira, há uma melhor remuneração do agricultor, preços mais acessíveis ao consumidor e baixos custos operacionais.

Mesmo depois da feira de Caraúbas, as famílias de Sombras Grandes e Milagres ainda têm produção excedente. Para acessar outras vias de comercialização, como o mercado institucional do Governo Federal, a associação se filiou a Cooperativa Potiguar de Apicultura e Desenvolvimento Rural Sustentável (COOPAPI). Outro canal que o grupo já está utilizando é a venda de cestas com produtos agroecológicos com entrega na casa dos consumidores de Mossoró, um município polo situado a 100 km de Caraúbas.

Paralelo à ampliação da produção de alimentos, as comunidades foram se equipando de tecnologias sociais que facilitam o processo de convivência com o Semiárido: cisternas de placas de 16 mil litros para captar e armazenar água da chuva para consumo humano (beber, cozinhar e escovar os dentes), uma adutora para levar água do poço para as residências, um minhocário e uma unidade de beneficiamento das frutas. Todas estas tecnologias foram conquistadas pela atuação da Associação, que ganhou uma sede.

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