Talentos do Semiárido

Maria do Socorro Barbosa Germino, rendeira e agricultura

Poção, Pernambuco

Maria do Socorro - Renda RenascençaA artesã Maria do Socorro Barbosa Germino aprendeu os primeiros pontos da renda Renascença, com sua mãe e suas irmãs, quando ainda era criança. A família vivia na zona rural e o ofício era uma maneira de complementar a renda gerada pela agricultura. Desde que a renda Renascença, cuja origem remete à Veneza do século 16, começou a ser ensinada por volta dos anos 1950 no Semiárido nordestino, se tornou uma importante fonte de renda, especialmente para mulheres de comunidades na Paraíba e Pernambuco. “Fazer Renascença surgiu da necessidade de termos um ofício como geração de renda junto com a agricultura. Foi dela que conquistei minhas coisas. Criei meus filhos e até hoje vivo da renda”, conta Socorro.

Boas práticas. Para fortalecer o trabalho das rendeiras de Poções, foi criada a Associação Cáritas Paroquial de Cruzeiro e o Grupo Mulheres de Renda. Ao menos uma vez por mês as rendeiras se encontram para trocar trabalho, receber encomendas e discutir melhorias. Para o futuro, elas trabalham para manter viva a tradição da renda Renascença no Semiárido do Nordeste e batalham pelo reconhecimento do território com o projeto para criar o Território Identitário da Renda Renascença.

Tradição secular

A Renda Renascença faz parte do dia a dia da artesã Maria do Socorro Barbosa Germino desde que ela era criança. Aos sete anos, Socorro aprendeu a dar os primeiros pontos com a mãe e as irmãs mais velhas. Desde então não parou nunca mais. Hoje, aos 57 anos, é uma importante liderança em sua comunidade, situada em Poção, Pernambuco. Além da Renda, quando o clima permite, ela mantém uma roça de subsistência.

A Renda Renascença tem papel de destaque na vida de muitas mulheres do Semiárido Nordestino, por ser um ofício fundamental para complementar a renda da agricultura familiar. Conhecimento passado de mãe para filha, Socorro ensinou suas duas meninas a técnica, e ambas se dedicam à Renascença.

Na cidade de Poção, quase todas mulheres, especialmente mais velhas, são também rendeiras. Para organizar o trabalho e lutar por mais possiblidades e acesso aos mercados, foi criada a Associação Cáritas Paroquial de Cruzeiro e em seguida o Grupo Mulheres de Renda. O Grupo foi registrado em 2008, mas nasceu alguns anos antes. Ao menos uma vez por mês, as mulheres se reúnem para receber encomendas, discutir melhorias e acertar a participação em feiras. Há quatro anos, Socorro preside a Associação. Uma das iniciativas da Associação é buscar reconhecimento e valorizar a origem do bordado com a criação do Território Identitário da Renda Renascença. A iniciativa pretende dar visibilidade ao trabalho tradicional de uma região que, há décadas, mantém uma cultura de vital importância para muitas famílias do Semiárido.

Atualmente, as rendeiras fornecem seus produtos, em consignação, para o Centro de Artesanato local. Elas também costumam receber encomendas quando participam de feiras e eventos. Com a Associação, as rendeiras se fortaleceram, mas a maior dificuldade ainda está na comercialização dos produtos – até pela natureza do trabalho, com material caro e execução demorada. Para se ter uma ideia, uma única blusa, pode levar mais de 1 mês para ficar pronta. Já uma toalha de mesa, com cerca de 2 metros, se feita sozinha, pode demorar mais de 1 ano.

Embora, as jovens já não se interessem tanto em aprender o ofício, Socorro não está preocupada com a sobrevivência do ofício: “A renda não se acaba nunca”, diz ela. Enquanto isso, busca a realização de um sonho antigo: criar uma escola para ensinar toda a beleza da renda Renascença.

Tradição secular. Acredita-se que a renda Renascença tenha surgido em Veneza, na Itália, por volta do século 16 e teria chegado ao Brasil junto com as mulheres dos primeiros colonizadores europeus. Ao desembarcar por aqui, o trabalho delicado passou a fazer parte das tradições rurais do Semiárido no Nordeste brasileiro. Freiras estrangeiras, que costumavam ensinar o ofício, também ajudaram a disseminar essa arte por estados como Paraíba, Pernambuco, Ceará, Sergipe e Bahia.

Segundo a tradição, a Renda Renascença chegou à região de Poção – que conta ainda com os municípios pernambucanos de Pesqueira e Jataúba, além de algumas cidades paraibanas –, por volta dos anos 1930, com uma jovem estudante. Ela teria aprendido a técnica com as religiosas do Convento Santa Tereza, em Olinda e relutado em ensinar as mulheres da cidade, encantadas com o ofício. Não era maldade. Na época, havia a crença que apenas as irmandades religiosas podiam produzir as rendas e as ajudantes das freiras eram proibidas de ensinar a técnica. Apesar da recusa, a jovem Elza Medeiros, mais conhecida como Lalá, insistiu, aprendeu os bordados e ensinou muitas mulheres da região. Até hoje, na região, Lalá é conhecida como a mãe da Renda Renascença.

Contato:

Maria do Socorro Barbosa Germino    
mulheresderenda@gmail.com
(87) 99106-8770

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