Talentos do Semiárido

Maria de Lourdes Souza de Oliveira

São João do Tigre, Paraíba

Lourdes OliveiraA baiana Maria de Lourdes Souza de Oliveira nasceu em Paulo Afonso, mas se mudou, ainda criança para São João do Tigre, na Paraíba. Foi lá que aos 10 anos de idade começou a aprender os primeiros pontos da Renda Renascença. Ela aprendeu o ofício com a madrinha e com rendeiras vizinhas que se reuniam para trabalhar e costumavam ensinar as meninas. Desde que começou a fazer Renascença, Maria de Lourdes não parou mais. Além da tradição muito antiga que persiste pelas mãos das rendeiras do Cariri paraibano, a Renda Renascença é também a principal fonte de renda de muitas mulheres e famílias.

Boas práticas. Depois de muito tempo batalhando para formar uma cooperativa, o sonho se concretizou em 2008 com a fundação da COOPETIGRE – Cooperativa de Produção de Bens e Serviços de São João do Tigre. Sócia-fundadora, Lourdes foi presidente da cooperativa e atualmente permanece como sócia. Para ela, a maior dificuldade das rendeiras ainda é o acesso ao mercado. “A dificuldade maior é vender. Não podemos trabalhar tanto para deixar o produto parado e também não é justo vender barato para o atravessador”, diz.

De porta em porta

Há alguns anos quando percebeu que uma das maneiras de melhorar as condições de trabalho das rendeiras de São João do Tigre era formar uma cooperativa, a baiana Maria de Lourdes Souza de Oliveira, de 62 anos, se empenhou para transformar a ideia em realidade. Junto com outras duas rendeiras da pequena cidade no Cariri paraibano, Lourdes, saiu de porta em porta perguntando quem gostaria de ajudar a criar uma cooperativa.

Fundada em 2008, hoje a COOPETIGRE, conta com 48 cooperadas. “A cooperativa ajudou muito a atenuar o isolamento da cidade pequena em que vivemos. Além disso tivemos apoio do Sebrae, do Procase – Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú e de outras ONGs para ajudar a divulgar nosso trabalho”, diz Lourdes.

A pequena São João do Tigre, a 243 quilômetros da capital, João Pessoa, fica na área de Proteção Ambiental das Onças, entre montanhas e uma vasta mata nativa. Lá, a maior parte da população de pouco mais de 4 mil habitantes vive da agricultura familiar, da pecuária e da Renda.

A cooperativa, no entanto, não conseguiu resolver um problema que aflige a maioria das rendeiras brasileiras: o acesso ao mercado. “A maioria das rendeiras aqui em São João do Tigre não tem um salário fixo. Quase 80% das artesãs dependem da Renascença para manter a família ou complementar o rendimento da casa”, diz Lourdes. Para essas mulheres que não conseguem vender os produtos não há alternativas viáveis. “Não dá para deixar as peças guardadas no armário, mas também não dá para vender o trabalho baratíssimo para o lucro do atravessador”, diz.

Guardiãs do saber-fazer

A falta de acesso ao mercado é um problema comum entre as rendeiras de Renascença e Irlandesa do Semiárido paraibano, pernambucano e sergipano. As artesãs carecem de acesso ao mercado e um ponto de venda permanente para melhorar a divulgação de um trabalho tão especial. As rendeiras têm em mãos um produto artesanal de altíssima qualidade e valor agregado, que representa a tradição e a cultura de um grupo especial de artesãs, porque são elas as guardiãs desse saber-fazer.

A Renda Renascença sobrevive da tradição oral, faz parte de um legado que passa de mãe para filha, de vizinha à amiga. A bela maneira de criar pontos diversos com milimétrica precisão chegou à Paraíba na década de 1950. Algumas mulheres de São João do Tigre aprenderam o ofício com amigas e conhecidas de munícipios vizinhos. Outras rendeiras aprenderam a arte com artesãs de cidades próximas no Agreste pernambucano como Poção e Pesqueira.

Na Paraíba, as cidades de Monteiro, Carnalaú, São João do Tigre, São Sebastião do Umbuzeiro, Prata, Congo, Sumé e Zabelê, no Sertão do Cariri Ocidental, concentram a produção de Renda Renascença do estado. Nessa região, estima-se que cerca de quatro mil artesãs, aproximadamente 20% da população feminina local, se dedica à Renascença.

Atualmente, as rendeiras da COOPETIGRE vendem seus produtos em feiras de artesanato em cidades como João Pessoa e Olinda, em Pernambuco. A feira costuma durar 30 dias, mas nem todas conseguem vender os produtos. “Na feira, às vezes a gente vende, às vezes não vende. Sem um comércio, a gente fica dando lucro para atravessador”, diz Lourdes.

Contato:

Lourdes Oliveira
(83) 99870-2681

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