Antônia Pereira da Silva, agricultora
Caraúbas, Sítio Sombras Grandes e Milagres, Rio Grande do Norte
A história de Dona Toinha, 57 anos, se confunde com a de inúmeras mulheres do sertão brasileiro. Agricultora do município de Caraúbas, no Rio Grande do Norte, Dona Toinha mora no Sítio Sombras Grandes e Milagres, assim como outras 34 famílias. Casada e mãe de nove filhos, o mais velho tem 40 e o mais novo 17, desde que nasceu vive da agricultura. Para conseguir sobreviver numa comunidade esquecida pelas políticas públicas ajudou a fundar, em 2005, a Associação Comunitária dos Produtores Rurais de Sombras Grandes e Milagres. A partir daí a história começou a mudar. A Associação abriu as portas da comunidade para a chegada de vários projetos produtivos sustentáveis. Também chegou luz elétrica, adutora e reconhecimento. Mas o que agradou mesmo foi o projeto de irrigação de hortaliças. Antes, ela e as outras mulheres da comunidade eram completamente dependentes dos homens da casa; agora, nos períodos mais férteis, chegam a ganhar até mais do que eles. São protagonistas das suas próprias histórias e multiplicadoras de exemplo.
Boas práticas. A família de Dona Toinha e outras sete que participam do projeto de irrigação do Projeto Dom Hélder (parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário –MDA e o Fundo Internacional para Desenvolvimento da Agricultura – FIDA) e Petrobras, desenvolvem um trabalho conjunto. Num terreno da Associação, elas montaram uma grande horta irrigada por micro aspersão, por gotejamento e lotearam os viveiros para que cada família possa cultivar o que tiver interesse. Um ponto importante é que os moradores e beneficiários participaram ativamente da instalação do sistema de irrigação. Assim, eles estão capacitados para resolver possíveis problemas e para replicar a experiência em outras comunidades. A produção é 100% agroecológica, livre de agrotóxicos, garantindo a segurança alimentar dos que compram na feira e dos moradores da comunidade.
É dia de feira
Toda sexta-feira as famílias fazem um apurado do que foi colhido e anotam tudo no caderninho da Associação para que no sábado as hortaliças sejam vendidas na Feira Agroecológica de Caraúbas. Do montante vendido, o grupo retira os custos com a feira e o que sobra é distribuído de acordo com o que foi colhido por cada beneficiário – quem colhe mais, ganha mais.
A água para manter a produção vem de poços planejados para atender as necessidades do sistema. A irrigação facilitou o cultivo das hortaliças que, até então, não faziam parte do cardápio da comunidade. “Aqui os meninos já nascem comendo beterraba, alface. O médico da cidade diz que aqui ninguém adoece”, diz orgulhosa Dona Toinha. Orgulho, ela e as outras mulheres da comunidade têm de sobra. Participam ativamente do dia a dia da associação, recebem visitantes de vários lugares do país e fazem intercâmbios de experiências. Nada disso passava na cabeça de Dona Toinha quando a Associação de Produtores foi criada.
De acordo com a agricultora, homens e mulheres têm papel importante no cuidado com a horta. Para os homens fica a responsabilidade de carregar o esterco e fazer o composto. As mulheres, em geral, trabalham na produção de mudas para o viveiro, plantação e manutenção de todo o sistema. Ser mulher e trabalhar com a agricultura familiar, para Dona Toinha, é uma grande conquista, coisa de outro mundo. Trabalha com a felicidade de quem tem aptidão pelo ofício e respeito à terra.
O protagonismo da mulher na agricultura familiar é notável. Elas são valorizadas pelo seu conhecimento e sua capacidade de inserção na organização do trabalho da agricultura. Em geral, constroem coletivamente caminhos para superação das situações de desigualdade – é o resgate da autonomia enquanto mulher. Muito ainda precisa ser feito, mas a semente foi plantada e as mulheres do Sítio Sombras Grandes e Milagres, representadas por Dona Toinha, são exemplo da superação desse quadro.
Contato:
Antonia Pereira
(84) 9 96869321
